sábado, 11 de janeiro de 2014

Amores Roubados – Capítulo 4




por Thiago Leal


O começo da ruína de Leandro Dantas…

Lembram-se de quando fiz uma pequena analogia dos romances de Leandro com a construção de um castelo de cartas? Pois foi neste quarto capítulo que esta torre começou a ruir. Ela não desmoronou por completo, pois ainda temos muito pela frente, mas foi aqui que Leandro começou a perceber o castelo tremer e a estrutura dar sinais de que não vai aguentar muito tempo.

O capítulo, diga-se de passagem, foi o melhor dos quatro já apresentados. Aliás, a série vem em uma crescente absurda, apresentando um capítulo melhor que o outro, o que comprova que essa intenção do roteiro, de ir liberando pouco a pouco a corda com que Leandro vai se enforcar, está dando muito certo. Não me lembro de nenhum capítulo que não tenha me deixado curioso para assistir ao próximo e, neste então, essa sensação chegou ao seu ápice.
Toda a trama deste capítulo foi dedicada a Isabel, sua visão quanto ao relacionamento que tem com Leandro, a desconfiança de Jaime e a descoberta da traição. Tudo isso aconteceu em um único capítulo, com a trama sendo construída cuidadosamente visando a explosão das cenas finais, que foram absurdamente primorosas.

Aliás, uma coisa que vem me surpreendendo é que “Amores Roubados” parece que se tornou duas minisséries dentro de uma. De um lado temos as cenas de Leandro e Antônia, muito românticas e envolventes, que nos dá motivos para torcer pelo casal, uma vez que sua paixão parece genuína. Intercalado aos momentos românticos, temos toda a tensão que os relacionamentos passados do rapaz causaram, com traição, vingança e ódio. A montagem dos capítulos tá sendo genuína em mesclar esses dois polos distintos da minissérie, pois joga o telespectador em uma verdadeira montanha russa, passando de momentos fofos e românticos em uma praia à explosão homicida de Jaime em questão de segundos.

Quanto ao lado mais romântico de “Amores Roubados”, por enquanto, tudo o que tenho para falar é que a química entre Ísis Valverde e Cauã Reymond é ótima e torna o casal crível para o público. Por causa de todas as suposições que foram feitas acerca dos bastidores da minissérie sobre um envolvimento dos dois – sobre as quais eu prefiro nem discorrer muito, pois acho que não convém falar sobre isso e desmerecer um trabalho tão bonito com boataria. Estou aqui para comentar a obra “Amores Roubados”, não a vida de seus protagonistas – havia um temor de que o público fosse rejeitar o casal e, agora que conhecemos a trama, seria um desastre se isso ocorresse. A minissérie simplesmente não funcionaria.

O ponto principal quanto a Leandro e Antônia é que, além da excelente química entre seus intérpretes, o roteiro é inteligente em criar situações para os dois que tornam suas cenas mais leves, longe do reboliço que os outros personagens se encontram e extraem o que há de melhor de cada um dos dois personagens. Não à toa, em uma das cenas mais belas dos dois no episódio, Leandro afirma que Antônia fazia dele “uma pessoa melhor” e quando indagado pela moça a forma como ele estava sendo uma pessoa melhor, ele responde “menos pior”. E é isso que o roteiro faz por ambos. Os colocam em situações que, somadas à química do casal, não deixam outra solução ao público senão torcer pelo romance.

Antes de continuar, inclusive, gostaria de destacar as lindas cenas do casal que são de um romantismo ímpar. Tivemos dois momentos memoráveis do casal no episódio, em cenas tão lindas que poderiam muito bem estarem em filmes de romance. A primeira delas foi quando os dois param o carro e posam para a câmera, se encerrando no momento em que Antônia dança para Leandro em uma das cenas mais belas que já vi na TV. E já na reta final do episódio, todo o ato protagonizado pelos dois foi belíssimo e impactante, pois, além de mostrar a paixão entre eles, ficou claro também a vontade de ser feliz que é maior que qualquer percalço que eles enfrentem como, por exemplo, a origem de Leandro. Em comum entre as duas cenas, além do texto poético, tínhamos fotografias deslumbrantes e uma química impressionante entre Ísis e Cauã.

Agora é chegada a hora de falar sobre a outra parte de “Amores Roubados”, aquela mais explosiva, aquela que foi dominada completamente pela espetacular Patrícia Pillar, que foi o grande nome do episódio. Como comentei na abertura desta review, o episódio marcou o início da ruína de Leandro, mas quem desmoronou de vez foi Isabel e foi fascinante acompanhar seu declínio.

O que mais me fascina em Isabel é a tristeza latente de sua alma, que Patrícia cuidadosamente demonstra na forma com que sua personagem se porta, com fala mansa, sempre retraída, tentando não ser notada. Quem já teve ou conhece alguém próximo que teve depressão, sabe o quão maravilhosa está sendo a construção da personagem de Isabel. E um dos fatores da depressão é a escuridão que acompanha a pessoa. Por mais que ela queira, ela não consegue simplesmente ser feliz e isso estava claro em Isabel desde suas primeiras cenas.

Mas daí aparece Leandro na vida de Isabel e, com a promessa de aventuras e poesias, consegue lhe tirar da escuridão. O que Leandro queria com Isabel era um caso. Mais um troféu para a sua estante. Mas desconhecendo a realidade de Isabel, a tristeza de sua alma, ele não percebeu que para ela, o que ele lhe oferecia era muito mais. Era uma salvação, uma razão de viver, o fim de sua solidão, o fim da escuridão.

Por isso é fascinante acompanhar o surto de Isabel, que passa a perseguir Leandro e perguntar-se o que ela fez de errado para que o relacionamento dos dois acabasse, E notem aqui que o significado de “relacionamento”, para os dois, é completamente oposta. Enquanto Leandro afirma para Fortunato que eles “apenas se beijaram” deixando claro não compreender as atitudes de Isabel, fica óbvio que o que ela procura em Leandro era aquela fuga que ela conseguiu por poucos minutos de seu casulo. É aquele homem que a fez vislumbrar um pouco de felicidade mesmo que através de um livro de poemas.

E o mais magnífico nisso tudo é que Patrícia Pillar tem a sensibilidade para perceber cada um desses detalhes psicológicos de sua personagem e notou cada nuance da delicada sanidade de Isabel. E desde o início do episódio, com as cenas na festa de São José, as reações de Isabel ao marido Jaime, sua busca por Leandro e sua desilusão ao perceber que o rapaz não correspondia seus sentimentos, Patricia Pillar foi ABSOLUTAMENTE SOBERBA. Ela pegou o texto, tornou-o seu e apequenou todos a seu redor. Meu rol de adjetivos seria pequeno para dimensionar o tamanho de Patrícia neste capítulo.

Mas ainda que dominado quase que completamente por Patrícia, o episódio deu uma oportunidade grande para que Murilo Benício e Irandhir Santos também aparecessem. Uma vez desconfiado da mulher, Jaime colocou seu “capataz” João para segui-la e descobrir se ela estava tendo um caso. Chegamos então ao ato final do episódio, que se inicia na casa de Leandro quando Isabel o confronta sobre o relacionamento dos dois. Esta, para mim, já é a melhor cena que “Amores Roubados” nos apresentou e, desde seu início na casa de Leandro, passando pela belíssima cena no morro e concluindo com Isabel tomando os remédios, estávamos diante da perfeição narrativa. Tínhamos uma Patrícia Pillar sobre-humana, um texto impecável, uma direção segura, uma fotografia belíssima, uma trilha tocante na construção de um arco que deixou todo o público com o coração na mão.

E eis que depois dessa cena magnífica e do show de Patrícia Pillar eu imaginei que seria impossível que este momento fosse superado. Mas eu estava enganado. Irandhir Santos e, sobretudo, Murilo Benício ainda queriam sua parte deste show. Quanto ao primeiro, antes de mais nada, tenho que voltar um pouco para a cena no morro e destacar o show que Irandhir deu enquanto desejava o suicídio de Isabel. Enquanto ele falava para ela pular, a câmera focou seu rosto e era possível ver o prazer misturado com uma escuridão em seus olhos.

E temos também Murilo Benício. Apesar dos detratores, sou fã do trabalho do ator e o acho um dos melhores atores de sua geração. Sim, Murilo tem uns cacoetes que o acompanham em todos os personagens, mas é um dos únicos atores que consegue se desmontar por completo quando da composição de um novo personagem. Ele consegue entender o personagem que tem em mãos e entregar por completo seu corpo para o personagem. Isso é claramente notado quando pegamos o Dodi (A Favorita), o Victor Valentim (Ti Ti Ti) e o Tenente Wilson (Força-Tarefa). Na verdade, até mesmo o Tufão (Avenida Brasil) que, assumo, não foi de seus melhores personagens – embora tenha sido um dos mais icônicos – tenha uma pureza, uma doçura, que deixava claro o quanto Murilo havia entendido a alma do personagem.

Aqui, pela primeira vez, Jaime de fato apareceu, cresceu e tornou-se enormemente ameaçador. Jaime é aquele típico “coronel nordestino”, aquele homem duro, firme, dominador, que vê tudo e todos ao seu redor como objeto. Isso fica claro desde a forma com que ele fala com a mulher e a filha, até o jeito como ele gosta de ser bajulado por João. E descobrir a traição de Isabel é um golpe do qual Jaime não pode se recuperar.

Tenho certeza que veremos muito mais de Jaime/Benício nos próximos seis capítulos mas, desde já, já ficam aqui todos os meus elogios pela memorável cena da explosão de Jaime, quando ele quebra o celular com as fotos de Isabel e Leandro. Mais belo ainda foram os minutos finais em que, sob a narrativa de João, Jaime pega sua arma e se encaminha em direção à sua mulher na cama. Foi uma cena de uma beleza sublime e, misturar a narração de João com as expressões vívidas de Jaime foi uma experiência transcendental, dando oportunidade para ambos, Murilo e Irandhir, encerrar com chave de ouro esse capítulo magnífico.

::: Alguns Devaneios Finais:
- Desculpem o “atraso” da review. Quando eu estava no meio do episódio acabou a energia aqui em casa e me deixou louco. Tive que procurar um link online para terminar de assistir essa manhã.

- Simplesmente adoro as interações entre Leandro e Fortunato. A amizade entre os dois é palpável e real e você percebe isso a cada conselho que Fortunato dá a Leandro e que nós sabemos que ele não vai seguir. Jesuíta Barbosa está realmente fazendo um excelente trabalho com o pouco texto que lhe é dado.

- Sobre audiência, o terceiro capítulo teve números finais de 28 pontos na Grande São Paulo. Perdeu apenas três pontos com relação aos dois primeiros e continua 5 pontos acima da média do horário e 6 pontos acima do que a Globo esperava da série. A informação que se tem é que a Globo está maravilhada com o sucesso da minissérie.

- Tivemos uma única cena de Cássia Kis Magro no episódio, o que me deixa triste. Mas acho que foi até uma questão de respeito do roteiro não fazer Patrícia Pillar dividir os holofotes com Cassia nem com Dira.

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